Laços de cooperação entre INIS e Fiocruz estão cada vez mais fortes
A cooperação entre a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) e o Instituto Nacional de Investigação em Saúde (INIS) continua cada vez mais forte. Os laços de cooperação foram realçados pelo Dr. José Paulo Ferreira Júnior, médico obstetra e gestor do Instituto da Gestante, Criança e Adolescente Fernando Figueiras, da Fiocruz, Brasil, aquando da sua estadia no INIS, em que partilhou a experiência do seu país sobre as infecções congénitas, no âmbito do projecto zika/microcefalia em Angola 2018-2019.
A equipa de comunicação do INIS aproveitou a ocasião e manteve uma entrevista muito descontraída com o médico e investigador, para saber mais sobre a relação entre as duas instituições de saúde pública, conforme se pode acompanhar:
E.C: O que lhe traz ao INIS?
JPFJ: Angola registou entre 2017-2018 um aumento no número de crianças com microcefalia, o que é uma preocupação do INIS/MINSA e daí o motivo da minha visita.
E.C: Como está Angola no que toca ao vírus Zika?
JPFJ: É difícil dizer com precisão o estado de Angola quanto à epidemiologia, uma vez que não se tem o teste serológico para o diagnóstico total de indivíduos infectados, não somente em Angola, mas como também no próprio Brasil.
E.C: De uma maneira geral pode-se perceber que a situação do Zika no nosso país é preocupante. Poderia dizer-nos as suas formas de prevenção?
JPFJ: Claro. Esta sim é uma questão muito importante! A prevenção passa pelo combate ao mosquito do género Aedes . Se erradicar-se a população de mosquito não haverá Zika, Dengue, Chikungunya, Febre amarela, Mayaro e outros arbovírus. Então, a prevenção passa pelas campanhas de sensibilização ao combate do mosquito vector, saneamento do meio, recolha de lixos nas ruas, não deixar os recipientes ou reservatórios de água destapados. Aí sim se consegue diminuir os mosquitos em grande escala e a chance de a doença aparecer também reduz.
E.C: Sabemos que, para além de trabalhar com o Zika, o Doutor trabalha com infecções congénitas que levam ao nascimento de crianças com malformações: como está a correr a pesquisa nesta área, em particular cá em Angola?
JPFJ: Estamos a conhecer as pessoas, a conhecer as instituições. Tive a oportunidade de conhecer a maternidade Lucrécia Paim e achei o hospital, as pessoas e o tratamento dos pacientes muito bom, apesar de ainda não manter o contacto com os colegas angolanos que trabalham com malformação congénitas e outras infecções congénitas. Seria um prazer enorme ter contacto pessoal com eles e trocar experiências.
EC: Como está a relação entre a Fiocruz e o INIS?
JPFJ: A Fiocruz tem um acordo de alguns anos com o Governo Angolano de cooperação e, dentro desta estratégia, o nosso hospital, como registou essa epidemia do Zika, acabamos por acumular uma vasta experiência na gestão dos pacientes e, por isso, vimos tentar entender e a ajudar Angola a perceber o que aconteceu, uma vez que registou situação similar. Essa parceria é muito significativa, já que o Brasil teve muitos problemas que conseguiu resolver e, talvez, isso possa ajudar vocês a terem material necessário para trabalhar, começando a partir daí. Portanto, Brasil e Angola têm muitas coisas em comum, podemos ajudar muito e essa ajuda, passa, por exemplo, em Angola aproveitar as experiências que tivemos. Não existia nada publicado, saímos do zero, mas vocês já podem pegar na experiência do Brasil e terem a vossa própria experiência.
EC: Como avalia o INIS como instituição de investigação?
JPFJ: É a referência do país. Apresenta não só a possibilidade de diagnosticar casos de doenças que atentam à saúde pública, mas como rapidamente produz acções de intervenção. Quando procura trazer colegas com experiências em várias áreas da saúde, aí sim estamos a falar de um grande instituto, porque essa é sua função de um instituto de Investigação, que pensa numa política mais ampla, traz as pessoas envolvidas, permite que troquem experiências. É muito bom e salutar quando vemos um órgão estatal que se preocupa em realizar encontros (que são muito ricos) com pessoas que vêm de outras realidades (inclusive eu), para abordar doenças que teoricamente já acabaram, mas na prática não.
E.C: Como o Doutor olha para a iniciativa de alguns técnicos do INIS irem à Fiocruz em formação?
JPFJ: Este intercâmbio é sempre bom. Nós sabemos o quanto custa para os nossos países (que não são ricos) cada moeda que coloca na formação. Eu penso que, assim como nós acreditamos lá, vocês acreditam aqui, que esta formação vai criar bases para que, no futuro, novas pessoas possam ascender na carreira da saúde pública e possam dar respostas à população. Nós não conseguimos sair de uma geração de técnicos para a outra sem que haja pessoal que faça essa interposição. Posso falar em nome da presidência da Fiocruz, e por ser uma pessoa que conhece bem seu presidente, a Fiocruz estará sempre de braços abertos para um país como Angola, com o qual sempre teve uma relação tão boa e com as suas instituições. O INIS também tem uma área que a nós interessa muito, que é, por exemplo, o rastreio que se faz da malária e anemia de células falciformes em gestantes que chegam ao hospital Lucrécia Paím. É um programa de rastreio para todas e nós, Brasil, podemos aprender com Angola.
E.C: Gostaria de deixar um conselho ao INIS e que possa ajudar no seu desenvolvimento, uma vez que o Doutor diz que estamos num bom caminho?
JPFJ: Temos conversado muito com a equipa do INIS e estes dias foram muito intensos. O INIS tem um grupo técnico científico muito forte e nós vamos poder trocar experiências o tempo todo, apesar das particularidades de cada país. O INIS pode contar connosco, essa parceria, para nós, é uma grande honra e queremos estreita-la cada vez mais e se for possível noutras áreas também.
E.C: Uma vez que o Doutor já está prestes a regressar ao Brasil, diga-nos como foi ou está a ser a sua estadia em Angola?
JPFJ: Saudade! Estou com saudades. Senti-me muito acolhido, extremamente valorizado. Senti-me acarinhado e essas são coisas que não têm preço algum. Espero que tenhamos oportunidade de ter um novo encontro. Agradeço imenso à direcção geral do INIS pelo convite.
Com essas palavras despediu-se o carismático Dr. José Paulo Ferreira Júnior, agradecendo pela recepção e interacção que manteve com os vários profissionais da saúde em Angola.