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Cientistas africanas desenvolvem pesquisas contra cancro

Ao longo dos próximos três anos, as cientistas de Cabo Verde, Angola e Moçambique contam com o apoio financeiro da Fundação Calouste Gulbenkian e da Fundação La Caixa, no âmbito do concurso “We Search”, que visa aprofundar estudos cujos resultados devem beneficiar as respetivas populações.

Palmela Borges é investigadora principal do Laboratório de Biologia Molecular do Hospital Universitário Agostinho Neto. A cientista é responsável pelo projeto de cuidados oncológicos personalizados (CVPOC, sigla em inglês), com foco na problemática do cancro, considerado um problema de saúde em Cabo Verde por constituir já a segunda principal causa de morte.


Palmela Borges pesquisadora sobre cancro em Cabo Verde

“Assim sendo, verificou-se que há uma necessidade urgente de se investir em projetos que fomentem o diagnóstico precoce, que, de certa forma, aumentem também a qualidade e a eficiência dos tratamentos e da terapêutica”, explicou à DW África, Palmela Borges.

A cientista adiciona ai que o objetivo final “é melhorar a sobrevivência dos pacientes diagnosticados com cancro em Cabo Verde”.

Palmela Borges é uma das cinco mulheres, entre 75 candidaturas dos países africanos de língua portuguesa, selecionadas para estudar doenças crónicas que afetam particularmente as populações de Cabo Verde, Angola e Moçambique.

Reforço da investigação científica

“Este projeto, além do diagnóstico, também vem reforçar a investigação científica na área na área do cancro”, diz Palmela, acrescentando que no terreno já há trabalhos de “identificação das mutações hereditárias prevalentes no seio dos pacientes diagnosticados com o cancro de mama em Cabo Verde”.

Mas, para o sucesso destes trabalhos refere Palmela Borges que são necessários mais recursos para “aquisição de equipamentos adequados” e apostar na qualificação de recursos humanos, que “permitirão aprofundar estudos sobre a oncologia personalizada”.

Em Moçambique, a investigação liderada pela cientista Carla Carrilho, na Universidade Eduardo Mondlane, vai também procurar métodos alternativos de diagnóstico e tratamento do cancro da mama em locais com poucos recursos, através do teste com o sistema GeneXpert, amplamente mais acessível nos hospitais africanos. 

Reduzir mortalidade materno-infantil

Outro dos projetos selecionados é de Joana Morais. O seu estudo, a ser desenvolvido pelo Centro de Investigação em Saúde de Angola, visa avaliar os efeitos de doses baixas da aspirina diária em mulheres grávidas com anemia das células falciformes.

Trata-se de um problema de saúde pública mundial, com maior incidência na África subsaariana, como explica a cientista angolana.

“O que propomos com este estudo é quantificar a redução do número de partos prematuros, também da mortalidade materna e do aborto espontâneo usando aspirina em baixas doses numa fase muito precoce do período de gestação. Ou seja, no primeiro trimestre gestacional”, realça Joana Morais.

O objetivo da investigação, reforça a pesquisadora, é encontrar possíveis soluções profiláticas que possam ajudar na prevenção de complicação na gravidez em mulheres com aquela doença.


Joana Morais, pesquisadora angolana

“Acreditamos que os resultados e informações que vão surgir durante a vigência deste estudo poderão contribuir significativamente para a redução da mortalidade materno-infantil nesta população tão frágil”, vaticina Joana Morais.

O estudo vai envolver 450 participantes do sexo feminino de todas as idades, a serem recrutadas livremente em diversas maternidades de Luanda e que tenham diagnóstico confirmado de doença falciforme e de gravidez.

Em suma, cada projeto deverá contribuir para fortalecer as competências em investigação clínica nos centros de investigação, reforçando o conhecimento sobre o diagnóstico e o tratamento destas doenças.

Ao todo, os projetos a desenvolver nos três países terão um suporte financeiro de 750 mil euros, fruto da parceria entre as fundações Calouste Gulbenkian e La Caixa. Maria Hermínia Cabral, diretora do Programa Parcerias com África da Gulbenkian, considera que este “um passo no sentido de estimular a investigação clínica em várias áreas”.

Fruto da colaboração entre as duas instituições, o programa We’Search, lançado com a assinatura de um protocolo em 2022, é um concurso para reforçar instituições científicas e projetos de investigação clínica nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).

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